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sexta-feira, 29 de junho de 2012

A Vida com Detalhes


Porque de tão breve que é a vida, merece detalhes
Obrigação, compromisso, isso é tudo necessidade
Mas o dia que tem vida é o dia que é lembrado
E basta um detalhe pra o dia nunca ser esquecido
Por que não encurtar a estrada entre um detalhe e outro?
Por que não viver a vida construindo vida pra lembrar?
Porque de tão breve que é a vida, merece detalhes.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Libertação


Não queria filosofar em cima de um relacionamento morto. Tentei ainda detalhar meus sentimentos, mas somente a palavra “adeus” vinha na mente. Afinal, que conjunto de palavras forma uma frase para dizer que todas as expectativas criadas foram em vão? “Adeus” caia bem. Era forte e breve. E era assim que eu precisava me despedir.

Naquele momento, joguei para trás todas as almofadas daquele sofá pesado numa alegria que somente a esperança foi capaz de proporcionar.  Levantei, ajustei o pé para firmar o salto, retoquei o cabelo e a maquiagem dos olhos no espelho da sala e sai de fininho, sem olhar pra trás. Não bati a porta. Ao descer pela escadaria do prédio de três andares, senti uma felicidade que quase me sufocou e quase me fez gritar: era a liberdade no coração. A luz se apagou, e a sensação de luto que estava por vir significava renovação, a reinvenção de mim mesma.

terça-feira, 19 de junho de 2012

O blog é teu?


- Tais ai? Dá uma olhada: Quem é Obi-wan Kenobi?
- “Quem é Obi-Wan Kenobi?” é a tua cara. Até tive que me certificar que não foi escrito por você!
- ?? claro q foi escrito por mim!?! Ai! Será que publicaram meu texto?
- Pera... o blog é teu??
- ???
- Maria Flor???
- Lógico! Tu lê meu blog há um mês e acha que ele é de quem?
- Tô passado!!! Não creio. Pois eu li o outro conto da borrachinha e adorei... (muitas risadas) Mas achei que era uma pessoa conhecida tua que eu não conhecia. Eu pensei que era de alguma garota que tu admirava, que tu queria ser quando crescer.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Quem é Obi-Wan Kenobi?



Karina abriu a porta e Maria entrou arrastando tudo, com as sandálias penduradas nos ombros.
- O que houve?
- Ele não sabe quem é Obi-wan!
– Calma, eu também não sei! 
Maria riu, da situação e da frase que acabara de falar. Nem todo mundo precisa saber quem é Obi-Wan. E não vai acontecer nada de ruim na sua vida caso você também não saiba quem é. Mas, se você decidir que sabe, saiba!

Ela se enfeitou toda, e como era Maria, colocou uma flor no cabelo. Ia ao cinema. E a pessoa que iria em sua companhia tentara demonstrar o quanto era fã de Guerra nas Estrelas. O filme era Guerra dos Clones (o episódio dois). Já haviam tido uma conversa no sentido de comparar o que era melhor: Guerra ou Jornada. E Maria tentara opinar. Ela achava (equivocada ou não) que eram coisas feitas para públicos diferentes, e que não valia comparar, e sim gostar ou não gostar, de Guerra e de Jornada. De Guerra, ou de Jornada.

Maria tendia para Jornada, mas isso não significava que era completamente aquém do contexto de Guerra. Admirava e estava indo ao cinema por dois motivos: Obi-wan e Darth Vader (ainda Anakin). E isso estava muito claro para o aspirante a paquerinha. Haveria um jantar depois do filme... e o verbo não mudou de tempo.

O interfone tocou e Maria desceu. Ele estava encostado no carro fazendo pose e pinta de fã ansioso para ver o filme. Surpreendeu com a marcha imperial no som do carro. Ela achou que ele estava fazendo muito tipo, mas relevou. Deve ser assim mesmo quando a pessoa é muito fã.

O filme acontecia, até que numa cena onde só foi preciso um olhar de Anakin, Maria exclama:
- Obi-wan!
– Quem?
- Obi-Wan Kenobi!

Acabou-se o mundo quando ele fez disso uma interrogação. Ele poderia ter feito qualquer sinal de pontuação, exceto interrogação. Maria percebeu que o mentirinha não tinha ideia de quem era Obi-wan. O que não se explica no caso de um fã.

Pediu que ele a deixasse na casa da Karina. Não tinha mais fome nem vontade, não ia mais sair para jantar. Não ia sair para mais nada. Mentiu sem necessidade, imagina por dificuldade... não estava disposta a começar mais nada. Ele mentiu, e acabou tudo ali.

Só faltava ele ter dito que Yoda era um gato. Certamente Maria teria levantado no meio do filme e desaparecido em velocidade de dobra. Audaciosamente teria ido onde nenhum homem jamais esteve, somente pra sumir dali (levando as pipocas).

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A Dama de Espadas


Lá estava eu, com olhos e respiração de criança apreciando aquela borracha. Não era qualquer borracha, era uma dama de espadas, linda. E como eu estava na alfabetização, apagar muitas vezes faria parte da minha construção.

Pedi permissão para usá-la, somente durantes as tarefas daquele dia, ali mesmo, na sala de aula. Clarice riu pra mim, e entendi que isso era permissão. Sentindo-me a vontade então, pegava a borracha de vez em quando somente pra cheirar. Desde menorzinha, eu adorava coisas de escola: lápis, borrachas...não diferenciava menino de menina. Se fosse lápis, borracha, caneta ou caderno, eu amava.

Desse dia em diante, eu sentava na mesma mesinha que a Clarice na hora de fazer as tarefas na escola. Cabiam quatro crianças, sentavam quatro crianças. Mas somente eu compartilhava a dama de espadas. A Clarice permitia, sempre.

Uma tarde, tomei um susto. O que a dama de espadas estava fazendo na minha bolsa, em minha casa? Eu tentava entender, lembrar, refazer caminhos, mas não adiantava. Minha mente não havia registrado o momento que ela resolveu ser minha, mesmo que temporariamente.

Senti-me mal, juro. Mesmo sem perceber, eu havia tirado algo de alguém. Às vezes, tirar algo de alguém é bom. Por exemplo, arrancar com toda a força um sorriso. Mas ao invés de um sorriso, eu havia simplesmente e de maneira negligente, retirado um objeto da Clarice. O que ela faria agora, sem a sua Palas Atena?

Devolver a divindade seria um fato futuro, sem dúvida. Mas agora eu precisava de uma estratégia. Não poderia simplesmente chamar a Clarice em um canto e pedir desculpas. Poderia parecer com coisas que não foram realidade. Não queria me acusar de algo que não fizera. Maldade com arrependimento, não. Descuido! Não deveria então se parecer com nada feio, sejamos justos. Resolvi que teria muito cuidado com coisas que não se consertam nunca mais na vida. Um mal entendido poderia arranhar tudo.

Aliviou-me o pensamento de desfazer o ocorrido no dia seguinte. Tanto que ao ir fazer as tarefas de casa naquela mesma tarde, resolvi usar um pouco a dama de espadas. Que mal teria? Usei-a, sem culpa, tantas vezes quantas foram necessárias. Eu ainda estava na alfabetização.

Ao terminar as tarefas, cheirei mais uma vez a borracha antes de guardá-la. Neste exato momento, uma sirene alta de polícia. Desespero de criança quase sempre resulta em lágrimas. Não foi diferente comigo. Não precisava ter chamado a polícia, eu ia devolver Atena, desde sempre. Nunca tremi tanto, nunca sofri tanto. Não durou nem um minuto e a sirene foi ficando fraquinha, baixinha. Haviam passado direto, tomado outro rumo, seguido em frente. Por certo não encontraram a minha casa.   

Ao chegar à escola na manha seguinte, a Clarice já estava. Alívio! Tudo ia mesmo se resolver naquele dia seguinte. Fiz questão de puxar assunto só pra me certificar de que ela não conseguia ler o que estava escrito na minha testa. Ela ainda estava amável, eu ainda tinha tempo de agir. Esperei a hora do recreio com alguma angústia, a fim de executar logo a minha estratégia tão bem intencionalmente elaborada.

Neguei todos os convites de partilha de lanche, esperei que todos saíssem da sala de aula, e tremendo um pouco, bem ciente de que tinha um coração ativo, palpitante, entrei no corredor onde eram guardadas as bolsas escolares. Lá estava eu, com olhos e respiração de criança devolvendo aquela borracha. Não era qualquer borracha, era uma dama de espadas, linda.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Impossível Recomeçar

Pensando bem, é impossível recomeçar.
Recomeçar é começar de novo;
Pra começar de novo, há de ser tudo igual;
Pensando bem, é impossível ser tudo igual;
Se não é tudo igual, não é recomeçar. É começar outra coisa;
Se é pra ser igual, denominemos manter. Recomeçar é outra coisa.