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quinta-feira, 13 de junho de 2013

Vida longa e próspera ao cinema por arte

Acredito que o objetivo não é volume de bilheteria, deste país que notadamente se esforça para seguir em frente com a sua indústria cinematográfica. O amor à sétima arte supera, de longe, os obstáculos enfrentados por cineastas que buscam aprovação e recursos para um novo filme. A consequência da luta desse povo, o Irã, os colocou entre os 12 países que mais produzem cinema em escala internacional.

E foi nestes filmes que eu pude presenciar coisas simples, contudo extremamente bonitas. Destas obras de arte motivadas pela necessidade de expressão, aprendi coisas valiosas dignas de rechear a alma.

Com eles eu aprendi a ousadia. E foi mesmo ousada a atitude de Panahi de documentar sua prisão domiciliar, que sucedeu a sua greve de fome. Ambas motivadas pela tentativa de filmar um roteiro “inadequado”. Mas a sua ousadia não parou por ai. Este documentário saiu de seu país em um pendrive e viajou até Cannes com o nome: Isto não é um filme. Título inusitado pra quem, infelizmente, foi proibido de filmar por 20 anos.

Com eles eu aprendi mais sobre a verdade. E aprendi a conhecer quem eu sou. Em uma cena de Filhos do Paraíso, de Majid Majidi, a filhinha do comerciante está com uma xícara de chá e vai adoçar com um cubinho de açúcar. Açúcar que o pai quebrava pra levar pra a mesquita. Neste momento o pai a impede, dizendo que aquele açúcar não os pertence. Percebi neste momento que quem eu sou se manifesta quando estou sozinha, no momento que posso fazer coisas que ninguém jamais iria saber. E eu preciso gostar de quem eu sou quando estou livre de olhares e julgamentos. Ai reside a minha verdade.

Com eles eu aprendi que a gente arranja um meio. O filme Dez foi filmado com 2 câmeras digitais e o cenário era a vida real que aparecia na janela de um carro em movimento. Sem pirotecnia, e com muito conteúdo, Kiarostami me mostrou que é possível fazer excelente cinema com bons diálogos e bons personagens.

Com eles eu aprendi que é importante questionar, pra poder acreditar. E assim Kiarostami nos dá o prazer de fazer parte das suas obras. Deixa que a gente viva nossas próprias experiências ao longo dos seus filmes. Já tive, com uma amiga escritora, conversas sobre inúmeras possibilidades a respeito do filme Cópia Fiel. E o melhor é que eu posso estar certa, ela pode estar certa, e nós podemos estar erradas. E isso não nos importa. O que valeu foi a troca de pontos de vista que o filme nos proporcionou.

Com eles eu aprendi que a gente tem que deixar ir, deixar ser, pra conhecer verdadeiramente as pessoas. E nestes filmes isso é feito de maneira natural, durante as filmagens. Se o personagem ganha forma, nada mais importa. E o aparato pode nem estar pronto, o diretor pode nem estar pronto, mas o cinema ganha vida, real, e segue. Tudo é documentado, e a vida vira filme.

Por tanto aprendizado, desejo vida longa e próspera ao cinema iraniano.
Esta é a minha homenagem ao diretor que disse que “o relacionamento amoroso é o único campo em que a experiência não conta para nada, você não aprende nada com o tempo”. Sábias palavras do mestre Abbas Kiarostami.

E é também a minha homenagem a cineastas que me ensinaram tantas coisas: Jafar Panahi, Mohsen Makhmalbaf, Samira Makhmalbaf, Majid Majidi, Asghar Farhadi...

Algumas referências:
O Novo Cinema Iraniano [Alessandra Meleiros]