A
esperança dela durou dois sacos de sal. Não se sabe se de um quilo ou de dois,
cada um. O certo é que só durou isso: dois sacos de sal.
A
incerteza dele induziu a certeza dela. Não haveria mais casamento. Nunca houve,
pensou ela, querendo ser destemida. Ele saiu, e ela começou a limpar tudo. Limpou
alma e os vãos. Convencida de que valia circular as coisas, providenciou as
vendas. Fez bazar, vendeu o enxoval. O que seria uma festa virou um carro novo.
Ficaram,
por último, as alianças do noivado-indecisão (ele a deixou com o par). Certamente
eram as peças de maior dificuldade de venda. Não de compra, de venda. Seria
difícil pra ela o desfazimento. Encorajou-se e enfiou o par num envelope. Saiu de
carro com destino a Surubim, interior de Pernambuco. Vendeu o par por duzentos
reais. Deu uma risadinha somente por ter feito uma maldadezinha: entregar todo
aquele ouro por duzentos. Para ela, o valor não estava em quanto podiam pagar. Ela
queria enfim, desvalorizar o momento.
Depois
da venda (alianças cimentadas), permitiu-se o silêncio. Silenciou para si e
para o mundo. Ele fazia parte do mundo, e recebeu o silêncio dela. E o silêncio
a ele fez ausência; e a ausência fez-lhe estima. Agora ela lhe tinha valor.
Agora ela lhe era o amor.
Ele Despertou!
Correu e comprou rosas. Perfumou-se e declarou (o amor e a intenção). Imperava casar-se com ela.
Almejava enxoval e festa, fingindo não viver um “dejá vu”.
Ah, a esperança, essa desgraçada... a fez sair
de casa pra comprar mais sacos de sal, quantos quilos fossem necessários.
Muito bom!
ResponderExcluirShow!
ResponderExcluirSério? Entendi certo? Ela foi lá comprar mais sal pra por na ampulheta deles dois? Coitada.
ResponderExcluir-Amei o texto! A parte da "maldadezinha" das alianças foi óoootemo!!!
Vender ouro em Surubim??? Tu continua inusitada, dando volta na cabeça da gente!!! Adoro!!
ResponderExcluir