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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Gargalhada, não por Vingança


Havia encontrado suspeitas de traição por vários cantos da casa. Registros de chamadas telefônicas idas e vindas (em horário inconveniente), que para quem, nunca ficou claro. Mas é fato que atendia por voz de mulher; ausências não explicadas no meio de qualquer expediente, em qualquer mês do ano; fotografias que negavam o seu discurso; jantares reveladores de uma personalidade obscura e inquietante. Definitivamente, era uma pessoa misteriosa, mas não da maneira saudável, que chega a ser encantadora. Ele possuía um mistério irritante, odioso. O conjunto de sua personalidade trucidava o que de bom alguém pudesse sentir por ele.

Era uma sexta-feira e eu acordei diferente. Estava, enfim, indiferente. Chegou o dia. Telefonei-o pela manhã e chamei para ver o mar. À tarde, tomamos um café. À noite, fomos ao teatro. Comédia. Era delicioso vê-lo sorrindo sem saber o quanto ia chorar depois.

Saímos para jantar, ao final do mesmo dia. Logo após a primeira taça de vinho, olhei-o calmamente e informei que o abandonaria. Boquiaberto, perguntou-me o motivo. Resposta fácil: - Você, e tudo o que vem junto com as suas mentiras. Perguntou-me então o porquê de um dia bom, com um final trágico. Expliquei-lhe que quis proporcioná-lo um dia feliz sem o intuído de amenizar seu sofrimento, mas para potencializar o seu desconforto e a sua sensação de impotência ao perder-me. Quis acentuar o que de bom ele havia deixado passar, que ele havia tentado enganar.

Foi com um sorriso se formando no canto da boca que assisti a sua surpresa e paralisia. Aos poucos, surgiam lágrimas em seus olhos. Aos poucos, ia aumentando o meu riso. Uma evolução idêntica em ambos os processos. Tentei disfarçar, juro que tentei. Fiz tanta força para não deixar a risada escapar que minhas mãos suavam. Tremia por dentro de tanto rir, sem deixar que saísse um ruído. E enquanto ele se contorcia em lágrimas, eu também sofria. Às vezes dói segurar o riso por muito tempo, dá até calor. Fui incompetente, e não consegui evitar. Deixei uma gargalhada ganhar espaço. Eu ria, ah, como eu ria. Era uma gargalhada altíssima, e constrangida. Levantei-me e o abandonei ali, justamente como havia anunciado cinco minutos antes. Não olhei para trás. Nunca mais o vi.

3 comentários:

  1. Adorei! Posso não saber onde foram parar os padrões e educação do mundo moderno mas sei onde estão os meus. Muitos se esquivam do adeus por falta de amor próprio. Meus parabéns aos que são fortes o suficiente para seguir adiante sem olhar pra trás \o/

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