Havia
encontrado suspeitas de traição por vários cantos da casa. Registros de
chamadas telefônicas idas e vindas (em horário inconveniente), que para quem,
nunca ficou claro. Mas é fato que atendia por voz de mulher; ausências não explicadas
no meio de qualquer expediente, em qualquer mês do ano; fotografias que negavam
o seu discurso; jantares reveladores de uma personalidade obscura e
inquietante. Definitivamente, era uma pessoa misteriosa, mas não da maneira
saudável, que chega a ser encantadora. Ele possuía um mistério irritante,
odioso. O conjunto de sua personalidade trucidava o que de bom alguém pudesse
sentir por ele.
Era uma
sexta-feira e eu acordei diferente. Estava, enfim, indiferente. Chegou o dia.
Telefonei-o pela manhã e chamei para ver o mar. À tarde, tomamos um café. À
noite, fomos ao teatro. Comédia. Era delicioso vê-lo sorrindo sem saber o quanto
ia chorar depois.
Saímos
para jantar, ao final do mesmo dia. Logo após a primeira taça de vinho, olhei-o
calmamente e informei que o abandonaria. Boquiaberto, perguntou-me o motivo.
Resposta fácil: - Você, e tudo o que vem junto com as suas mentiras.
Perguntou-me então o porquê de um dia bom, com um final trágico. Expliquei-lhe
que quis proporcioná-lo um dia feliz sem o intuído de amenizar seu sofrimento,
mas para potencializar o seu desconforto e a sua sensação de impotência ao
perder-me. Quis acentuar o que de bom ele havia deixado passar, que ele havia
tentado enganar.